Dica de Leitura: A interpretação dos sonhos



“[Este livro] contém, mesmo segundo meu julgamento atual, a mais valiosa descoberta que tive a felicidade de fazer. Um insight como esse só nos ocorre uma vez na vida.” Sigmund Freud, 1931. A interpretação dos sonhos é o trabalho maior de Sigmund Freud (1856-1939), que inaugurou a era da psicanálise e mudou para sempre a maneira como o ser humano percebe a si mesmo. Além das novíssimas perspectivas lançadas sobre a natureza e os significados dos sonhos – outrora considerados apenas resquícios da vida diurna –, neste estudo revolucionário Freud postula uma instância até então desconhecida da psique humana: o inconsciente. Tal pressuposto – o da existência de um continente praticamente inacessa do da “alma” humana – abriu todo um leque de possibilidades de estudos científicos e psicanalíticos para Freud e seus seguidores. Trabalho tão genial hoje quanto à época de sua primeira publicação, em 1899, A interpretação dos sonhos é considerada uma das obras fundadoras da contemporaneidade e que mais influenciaram o pensamento do século XX. Este volume traz ao leitor brasileiro o texto pela primeira vez traduzido diretamente do original em alemão. Mais além do sonho,a interpretação dos sonhos se destaca, dentre a prolífica obra de Sigmund Freud, não apenas como um dos títulos principais, mas como um momento de inflexão da ciência moderna. Por um lado, os sonhos eram, até então, considerados resquícios da vida diurna, e tentativas de compreendê-los limitavam-se a esquemas rígidos de decodificação simbólica. Por outro, o ser humano ainda era visto como um animal puramente racional, dono completo de seu pensamento, e os poucos esboços no sentido de apontar a existência de outra dimensão da mente – que não a racional – nem sequer haviam chegado perto de explicar sua natureza e seu funcionamento. Freud, que há anos estudava o comportamento de pacientes histéricas, encontrou no sonho uma via de acesso à dimensão da psique na qual, acreditava, se deveria buscar a lógica por trás das doenças nervosas. Conforme ele mesmo explicita na nota preliminar do livro: “o sonho mostra ser o primeiro termo na série de formações psíquicas anormais de cujos termos seguintes – a fobia histérica, as ideias obsessivas e as delirantes – o médico precisa se ocupar por motivos práticos. (...) quem não souber explicar a origem das imagens oníricas também se esforçará em vão por compreender as fobias, as ideias obsessivas e as delirantes, e, eventualmente, exercer uma influência terapêutica sobre elas”. Ao pesquisar sobre a histeria e os sonhos, entretanto, o que Freud desvendou foi algo de alcance muito maior – o inconsciente. Estabelecia-se um novo paradigma filosófico na maneira de se pensar as engrenagens da alma humana, e abria-se todo um novo mundo que ainda hoje psicanalistas e estudiosos de vários campos não cessam de explorar. Sendo esta a obra em torno da qual se desenvolveu o movimento psicanalítico (e que está na raiz dos demais trabalhos freudianos), o próprio autor demonstrava ter conhecimento de sua importância seminal, como várias vezes deixou claro. Ao longo de sua vida, essa pedra fundamental da psicanálise teve várias edições. Na maioria delas foram inseridas modificações, à medida que progredia seu conhecimento e suas descobertas acerca do funcionamento da psique humana. A presente edição traz, sinalizadas, tais substituições e acréscimos, de forma que o leitor poderá acompanhar o desenvolvimento das ideias freudianas. Trata-se, também, da primeiríssima tradução brasileira realizada diretamente do original em alemão, o que devolve a este clássico o frescor e a elegância de estilo característicos de Freud. Tais cuidados devem fazer desta, entre o público em geral e estudiosos, a edição de referência nas próximas décadas. Sigmund Freud nasceu em Freiberg, então território do Império Austríaco, em 1856. Formou-se em medicina pela Universidade de Viena e especializou-se em neurologia. No entanto, sua paixão era a pesquisa científica, e em 1895 publicou aquele que é considerado o artigo inaugural da psicanálise, Estudos sobre a histeria, em coautoria com o médico Josef Breuer. À Interpretação dos sonhos (publicada em 1899 com data de 1900), seguiram-se dezenas de obras e artigos psicanalíticos, que totalizam mais de vinte volumes. Outros de seus trabalhos mais conhecidos são: Psicopatologia da vida cotidiana (1901), Três ensaios para uma teoria sexual (1905), Totem e tabu (1913), Mais além do princípio do prazer (1920), Psicologia das massas e análise do eu (1921) e O homem Moisés e a religião monoteísta (1939). Em 1938 deixou Viena em função da perseguição nazista e exilou-se em Londres, onde faleceu no ano seguinte. De sua autoria a também publicou: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, além da Correspondência entre Freud e Anna Freud.

Fonte: Saraiva

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