Recordando a história: Os bugres de nossa região (por Ernesto Arno Lauer) - Parte 7







Segue minha coluna publicada no Jornal "O Progresso" desta semana. As fotos foram obtidas na Internet, mas estão publicadas no livro "As Vítimas do Bugre", de autoria do Mons. Matias José Gansweidt e reeditado pelo professor Valdomiro Sipp. Gratidão aos dois.

Depois de vencerem o arroio Marata, os índios deixaram de ser perseguidos pelos colonos. Iniciaram uma difícil caminhada, subindo novamente ao planalto. A jornada consumiu cinco dias. Voltaram a mesma taba que haviam deixado ao iniciarem a peregrinação. Encontraram vestígios da presença de homens na aldeia, durante sua ausência. 
Abro um parêntesis para esclarecer que, depois que Luiz Bugre esteve na aldeia e os indígenas se colocaram em movimento, ele foi procurar os colonos e os policiais, dispondo-se a auxiliar na segunda expedição de resgate que foi montada. Ele os conduziu até a taba, que sabia vazia. Por isso está canoa de resgate também fracassou e outras não foram mais formadas.
Novamente na aldeia, a vida retomou ao seu normal. Incursões de caça, pesca e coleta de frutos e raízes traduziam as atividades cotidianas. Ao anoitecer de um determinado dia, ouviram um intenso alarido, vindo da mata. Bem armado, um grupo de índios foi designado para observar o que acontecia. De repente, foram surpreendidos: Da direção oposta surgiu um grande número de índios – eram caingangues do norte, inimigos destes que diziam ser do sul. Os nativos do norte atacaram a aldeia, sem dó nem piedade, colocando fogo nas ocas, espalhando o terror. Muitos índios foram mortos, de lado a lado. 
A refrega ia adiantada, quando o cacique do sul fez uma proposta ao do norte, para acabar com a mútua carnificina. Um duelo entre dois guerreiros, um de cada lado. A proposta foi aceita e o encontro marcado para o outro dia ao nascer da claridade. Se os do sul perdessem, os outros poderiam levar as coisas de valor e alguns prisioneiros (as); ao contrário, os do norte iriam embora, deixando prisioneiros.
No outro dia, ao nascer do sol, os dois contendores estavam a postos: o filho do cacique do sul e um forte guerreiro do norte, ambos armados com tacapes. Iniciada a luta, a troca de golpes, os ferimentos e hematomas foram mútuos, mas sem gravidade. Com um golpe violento de tacape, o do sul desarmou seu opositor e envolveu-o um violento abraço; a luta continua corpo-a-corpo. Num jogo de braço o do norte projeto o outro ao chão, tentando apanhar a clava para o golpe final. O sulista rapidamente se recompôs agarrando o contendor pela garganta, com as duas mãos, sempre pressionando. Os olhos do adversário saem das órbitas e advém a morte. Os do sul gritam de alegria; o combinado acontece e os do norte seguem seu caminho de volta.
Sobreveio violento temporal e muito frio; com as ocas queimadas, tiveram que improvisar abrigo. Valfrida e os dois filhos abrigaram-se sob a copa das árvores, apenas envoltos em pelegos. A proteção foi insuficiente e ficaram muito molhados. No dia seguinte Valfrida começou a sentir-se mal e Lucila a cuidou da melhor forma possível. Jacob foi colher frutos e as duas ficaram sozinhas, em lugar mais afastado da aldeia destruída. Como ninguém observava, resolveram fugir, mas foram encontradas e conduzidas de volta à taba.
Luiz Bugre retornou ao acampamento depois da luta. Observou Valfrida enferma e soube da tentativa de fuga. Foi ter com o cacique; depois, voltou com seis índios foi até onde ela estava e falou: - “Esta é a mulher”! Imediatamente os acompanhantes agarraram Valfrida e a conduziram para o interior da mata. Lucila tentou impedir e recebeu um forte golpe que a projetou ao solo inconsciente. Recuperou os sentidos e seguiu os captores, escondendo-se. Por isso a tudo presenciou.
Os índios cercam Valfrida e passam a golpeá-la com varas flexíveis e de regular calibre. Ela recebe tantos golpes que cai desfalecida. No chão, ainda desferem vários pontapés. Depois amarram-na pelos braços ao tronco de uma árvore. Nesta posição é atingida por diversas flechas. Os algozes abrem uma vala e jogam nela o corpo de Valfrida, cobrindo depois.
Triste o fim de Valfrida Versteg; tudo movido pelo ódio de um bugre, que não admitia ser chamado de “Luiz Bugre”. A filha Lucila a tudo presenciou e chorava em silêncio, para evitar ser descoberta. Quando possível, voltou para a aldeia e permaneceu curtindo a sua dor e esperando pela volta do irmão. Na próxima semana o último capítulo desta história. Desejo a todos UM FELIZ NATAL.

Fonte: Facebook e Coluna do Jornal O Progresso de 21 de dezembro de 2017.

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