Recordando a história: Os bugres de nossa região (por Ernesto Arno Lauer) - Parte 6




Na taba, a notícia da chegada de prisioneiros brancos correu de oca em oca e todos vieram apreciar os recém chegados. Eles foram expostos no centro do pátio fronteiro à construção maior e os índios os envolveram num círculo. Depois da pública exposição, o Cacique chamou uma velha índia, de cabelos brancos e pele enrugada, confiando-lhe os prisioneiros. Levou-os à última oca da aldeia, onde já dispostas algumas redes e pelegos. Aquela seria a sua morada doravante e a índia, de nome Ceji, a permanente guardiã dos três. 
O tempo foi passando e as esperanças de um resgate esmorecendo. Certo dia, um grande cachorro adentrou na oca e apanhou um pedaço de carne. Uma índia tentou impedir e o animal derrubou-a, provocou ferimentos pelo corpo. O Pajé foi chamado para tratar da moribunda. Os espíritos lhe orientaram que o animal fosse morto; assim a cura seria facilitada. Foi, então, que Valfrida descobriu o dono dos animais: LUIZ BURGRE. Foi ter consigo, fez algumas ponderações para serem salvos, prometendo que nada falaria sobre a sua participação. A resposta foi uma grande risada e um total descrédito.
Na reunião de Luiz Bugre com os índios do Conselho, restou um acerto: No dia seguinte todos da aldeia marchariam em direção ao sul. Assim realmente aconteceu; os índios armazenaram os seus pertences, utensílios e armas e levantaram acampamento, seguindo um novo rumo, passando por detrás da hoje cidade de São Pedro da Serra, seguindo os contrafortes, em busca da planície, passando por águas correntes, cheias de peixes, e animais selvagens próprios do planalto.
Nesta longa caminhada, seguidamente paravam por alguns dias para pescar e caçar. Foram muito felizes na pescaria, que faziam de maneira peculiar: apanham vermes e os amarram na ponta de uma longa vara. Quando o peixe subia para apanhar o verme, os índios disparavam flechas e os transfixavam. Os peixes mortos vinham à tona na superfície e eram apanhados. 
Tanto na pescaria quanto na caça, os animais mortos pertenciam ao grupo; depois de limpos eram divididos, de acordo com o número de pessoas de cada família. Descendo por uma região de morros, bastante acidentada, os índios chegaram a um vale, pelo qual corria um arroio. Acamparam ao longo do curso d’água. Ao entardecer ouviram barulho de animais descendo os morros e chegar a um fundo poço do arroio. Eram animais de grande porte, alguns chegando ao peso de 300 quilos. Eles só observaram.
No outro dia, instalaram-se na floresta, num semicírculo envolvendo o poço do arroio. Quando os animais chegaram e entraram na água, os índios apareceram e flecharam os bichos – chamado de tapir, mas em nossa terra conhecido como ANTA. Mataram vários e tiveram muito trabalho para tirarem as antas da água até a barranca do arroio.
Os animais foram eviscerados e sua carne dividida, conforme a necessidade. Grandes fogos foram acessos, possibilitando fosse assada. Este lugar depois ficou conhecido pelo nome de Poço das Antas, hoje município. Ali permaneceram por cinco sóis e depois seguiram ao leste.
Para Jacob, cada dia que passava, servia para engrandecer o seu conhecimento sobre a mata e os animais. Já sabia manejar o arco, com boa pontaria. Permitiram-lhe sair pela mata, para coletar frutos e raízes comestíveis. Sempre trazia frutinhas que dividia com as crianças, conquistando a sua amizade. Por isso, era informado, pelos pequenos, de tudo que se passara na sua ausência. Subindo e descendo morros, chegaram a um lugar chamado Marata, onde encontraram uma corrente d’água e uma grande roça de mandioca. 
Montaram acampamentos nas proximidades e foram coletar raízes. Em plena lida, ouviram barulho e o disparo de uma arma de fogo. Como estavam em pequeno número, não se aventuraram mais à frente. Recolheram-se, com o suficiente em mandioca para a refeição noturna. Voltaram no outro dia, com um número maior; Depois de algum tempo colhendo, novo barulho assustou-os; eram cães e pessoas se aproximando. Os disparos começaram; alguns indígenas foram atingidos.
O colono era um homem previdente e contava com a ajuda dos vizinhos e seus agregados, todos bem armados. Impossível enfrentar tanta gente e armas. Os índios fugiram, levando consigo os feridos. Recolheram seus pertences e puseram-se em marcha. Ainda perseguidos, foram obrigados a vadear o arroio Marata, e seguir em direção nordeste. 
Nestas andanças, Jacob salvou um filhote de coati de ser morto e assado, como aconteceu com a mãe e os outros irmãos. Cuidou do bichinho e criou um laço muito forte de afeição e amizade. O coati dormia com Jacob e o acompanhava por todas as andanças. Ele ensinou o bichinho a apanhar frutinhas, as quais distribuía. Chamou o coati de “Meu benzinho”.

Fonte: Facebook e Coluna do Jornal O Progresso de 15 de dezembro de 2017.

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