Recordando a história: Os bugres de nossa região (por Ernesto Arno Lauer) - Parte 1


Recordando a história

Foi então!
Nos idos de antigamente
Sempre desbravando
O luso branco apareceu
À margem do rio a dividir
A terra do Ibia.

Por longínquos anos, os índios Ibiraiaras ocuparam as terras à margem direita do “Caai”, estendendo-se em latitude e longitude por grandes espaços na geografia gaúcha. Os Ibiraiaras eram do grupo étnico gês-tapuias e na extremidade sul da colônia, estiveram próximos e sofreram a influência dos tupis guaranis especialmente quanto à língua e os costumes.
Em 1630, os jesuítas espanhóis, depois de terem instalado missões na região de Rio Pardo e Candelária, atravessaram os rios Taquari e Caí para catequisar os índios Ibiraiaras. Não lograram êxito; os indígenas desconfiavam dos espanhóis e dos tapes aldeados. Nesta refrega, acabaram por matar o jesuíta Cristóvão de Mendonza (recomendo a leitura de “Nação de Feiticeiros” – Eduardo Kauer). Houve uma expedição punitiva por parte dos índios missioneiros e aconteceu uma acentuada matança de Ibiraiaras; outros tantos foram aprisionados e vendidos como escravos.
Por incrível que pareça nestas tratativas, os Chefes Ibiraiaras descobriram um grande balcão de negócios: vender os da sua própria etnia aos portugueses. Laguna se caracterizou com o centro de compra e venda de índios Ibiraiaras, depois enviados para o sudeste, norte e nordeste brasileiro.
Os selvícolas que habitavam a região da grande IBIA trataram de deixar as áreas mais abertas (como as de nossa atual cidade), retirando-se para a mata superior, especialmente os lugares mais inóspitos, ao oeste e nordeste de Montenegro: Serra Velha, Batinga e a subir para o lado do “Campo dos Bugres”, hoje Caxias do Sul.
Os índios deixaram nossas plagas e foi a vez do gado bravio ocupar as boas áreas de pastagem e vegetação rasteira aqui existente. O gado (vacum, cavalar e muar) veio até aqui, impulsionado pela perseguição que os tropeiros, charqueadores e bucaneiros deram causa. Com o gado espalhado pela grande extensão das áreas de várzea e faxinal, os primitivos posseiros passaram da captura ao abate, salgando sua carne, para posterior venda. Surgem as primeiras Charqueadas na terra que hoje chamamos de Montenegro.
Recontar a história é pesquisar, divagar, comparar e seguir passos investigativos diferentes, de tantos outros que já contaram um tanto dos primórdios de nossa terra. Trata-se de uma adequação, com as nuances próprias de uma nova busca. Pois bem, relata a história que os Ibiraiaras eram ladrões e perigosos. Não eram conhecidos por INDIOS, mas sim por BUGRES.
Bugre é uma denominação dada a indígenas por serem considerados não cristãos pelos europeus. A origem da palavra, no português brasileiro, vem do francês bougre, que, de acordo com o Dicionário Houaiss, possui o primeiro registro no ano de 1172, significando "herético". Desta forma, o vocábulo passou a ser aplicado, também, para denotar o indígena, no sentido de "inculto", "selvático", "estrangeiro", "pagão", e "não cristão".
Esta concepção envolve forte valor pejorativo aos nossos primitivos habitantes. Os colonizadores de nossa terra chegaram a contratar atiradores profissionais, OS BUCANEIROS – por causa da arma usada – para expulsar os bugres da nossa região.

Fonte: Facebook e Coluna no Jornal O Progresso de 10 de novembro de 2017.

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