Recordando o passado: Os bugres de nossa região (por Ernesto Arno Lauer) - Parte 4


Sigo ao norte e continuar escrevendo a história de “Luiz Bugre” impõe uma simples pausa: o seu nome como civilizado. LUIZ ANTÔNIO DA SILVA LIMA foi-lhe dado e, pergunto, aos auspícios de quem? Aos onze anos de idade foi acolhido por Matias Rodrigues da Fonseca, após ferido em refrega armada. Em 1849 foi batizado e recebeu este pomposo nome. Qual a origem deste nome, especialmente os apelidos de família: DA SILVA LIMA. Creio interessante estes esclarecimentos, ainda mais quando estamos numa retrospectiva histórica.
O “da Silva”, advém do latim e significa “selva”, e dando conotação a uma pessoa de origem imprecisa, sem um nome de família. Por outro lado, muitos portugueses que vinham para o Brasil em busca de vida nova, pelos problemas enfrentados na antiga metrópole, adotaram o “Silva” para se beneficiar do anonimato que o sobrenome comum oferecia. A origem dos “Silvas” é controversa, mas tudo indica que o sobrenome surgiu no Império Romano para denominar os habitantes de regiões de matas e florestas que se refugiavam das lutas, justamente na península Ibérica 
O sobrenome Lima surgiu em Portugal e é considerado de origem toponímica, ou seja, de origem geográfica. O nome vem do Rio Lima e localidades adjacentes. A origem da palavra vem do latim “limes” que significa cercas destinadas a proteger a fronteira ou fortificações militares romanas. O Rio Lima, que deu origem ao sobrenome, tem uma certa lenda que diz que quem atravessasse este rio ficaria esquecido de tudo. Durante a Idade Média, era comum nomear famílias de acordo com lugar onde viviam.
O padre que batizou “Luiz Bugre” e Lamberto Vesteg (por ser aristocrata) conheciam o latim e da necessidade de uma pessoa receber um apelido diferencial de identidade.
“Luiz Bugre” preferia correr os matos e caçar, no que empregava longas horas do dia. Às vezes ausentava-se por semanas; voltava trazendo sempre carne e peles de animais bravios. Já adentrando a idade adulta, certo dia, desapareceu e por longo tempo; todos julgavam tivesse retornado para os de sua raça; inopinadamente voltou para junto de seu guardião. Havia feito uma excursão pelas terras de Santa Catarina; voltou acompanhado por uma consorte, com matiz da pele e estatura, semelhantes a sua: Índia ou cabocla; a dúvida persististe até hoje.
Depois de sua volta e por longo tempo, Luiz Bugre participou de atividades de caça junto a um colono. Nestas andanças encontrava com outros indígenas e acabou como intermediário entre eles e os colonos. Estabeleceu um escambo entre produtos como mel, peles e aves por espelhos, facas de metal, açúcar e sal. Acabou acreditado dos dois lados da antiga relação entre os imigrantes conquistadores e o nativo oprimido.
Luiz teve algumas desavenças com colonos. Por isso, instalou-se mais ao norte, próximo às nascentes do Arroio Forromeco, ao pé do Morro da Canastra. Desta forma, se afastou relativamente das colônias. Mas continua a relacionar-se com os moradores e com os indígenas nas matas. Vagueia pela floresta ou visita as vendas destes rincões, trocando objetos, enquanto deixa a mulher e um par de filhos aos próprios cuidados. Em qualquer parte que vá, o acompanha uma forte matilha de cães ferozes que o fizeram deveras temido. Mas, justiça lhe seja feita: tem os bichos na mão, atendem prontamente a seu assovio e temem mais sua voz que seu chicote.
Lamberto Von Versteg já morava ha mais de dez anos com sua família na região de São Vendelino (parte alta do Forromeco), quando resolveu participar de uma quermesse em São Sebastião do Caí. Consta que Luiz Bugre soube e foi à propriedade dos Versteg; encontrou a esposa (Valfrida) e os filhos de Lamberto. Orientou que colocassem um pano branco no telhado, para que os índios do mato não lhes fizessem mal, pois seria esse o sinal de que aquela casa era amiga. Foi o que Valfrida fez. Um pouco mais tarde o rancho foi atacado por um grupo de índios, que os levaram prisioneiros; ainda roubaram animais e utensílios domésticos. Antes de partir, colocaram fogo na propriedade. Quando do retorno de Lamberto, encontrou a casa em brasas e a ausência da família.


A foto retrata o Arroio Forromeco em sua parte alta.

Fonte: Facebook e Coluna no Jornal O Progresso de  1º de dezembro de 2017.

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